Olá
meus caros, hoje compartilharei com vocês minhas primeiras
impressões sobre como
é ser estagiário de gabinete,
ou como é ser estagiário na assessoria da vara, como queiram.
Desde o meio do curso eu entrei nessa vida de estagiário. Em todos os estágios que fiz até agora eu ingressei por meio de concurso público. São eles: TRF da 5ª Região (6ª vara federal da seção judiciária de Sergipe) e agora faço estágio no gabinete da primeira vara cível do fórum estadual do meu município, Itabaiana.
Eu passei em outros estágios, a exemplo do MP, mas fiz apenas para testar meus conhecimentos.
Tive a felicidade de estagiar sempre dentro de meu município e próximo de casa, inclusive isso pesou bastante nas minhas escolhas de local de estágio. Porém, não é sobre isso que tratarei aqui, mas sim sobre como é estagiar na assessoria do Juiz.
Antes
de entrar no mérito da coisa, gostaria de deixar aqui a importância
do fator sorte em nossa vida. Eu tive meu contrato de estágio na
Justiça Federal interrompido por conta da crise econômica - perto
do meu segundo ano de estágio findar - e um mês depois fui nomeado
no TJ. Se essa nomeação viesse antes, provavelmente eu não estaria
aqui escrevendo essas minhas primeiras impressões.
Entretanto,
vale ressaltar também que sorte é quando a preparação
encontra oportunidade. Eu fiz esse concurso do TJ sem estudar
especificamente pra ele, pois estava feliz da vida na JFSE, mas eu
vinha estudando para outras coisas. Acabou que esse estágio, por
conta de meu costume de prestar provas, vem me proporcionando uma
excelente experiência prática lá no fórum.
Aliás,
eu nem passei numa posição boa, passei em 9º lugar (meu número
favorito), o que não é nada demais para um fórum no interior, mas
que se eu tivesse passado em qualquer posição superior a essa eu
não teria assumido, pois estaria na JFSE sem sequer cogitar como
seria o final lá que, apesar de tudo, não apaga minha gratidão e
aprendizado adquirido com as pessoas de lá que são exemplos de
servidores públicos e de seres humanos também, em especial o meu
supervisor.
Outra
sorte foi ficar lotado na vara em que estou. Meses antes de iniciar o
estágio, eu compareci à sala de audiência para assistir às
audiências do dia (que fica na vara em que futuramente eu iria
estagiar).
O
juiz foi super educado não apenas comigo mas com todos os meus
colegas que foram lá fazer relatório das audiências. Gostei muito
da forma como ele nos tratou, com respeito e educação, o que
infelizmente não é praxe que vemos por ai não apenas no
judiciário, mas na grande maioria dos locais públicos e privados
que frequentamos.
Bom,
feito esse adendo, vamos às minhas primeiras impressões sobre como
é estagiar na assessoria do juiz.
A
primeira coisa que eu tive ciência é do tamanho da carga de
processos que os assessores e juízes têm em suas mesas e sistemas
de controle. Gente, é muito processo. Imagino como não
deve ser a carga de processos em Estados maiores que o meu Sergipe. É
preciso fazer uma verdadeira força tarefa para ao menos manter em
dia o balanceamento entre os processos que entram e os que saem.
Eu
faço estágio numa vara cível, lá eu trabalho com 3 assessores
feras e tenho uma amiga que também é estagiária, que inclusive foi
aprovada em primeiro lugar na época do concurso. Foi ela quem me
iniciou no sistema do tribunal e ensinou os paranauês das
coisas.
Eu
particularmente gosto de ficar apenas com os processos em ponto de
sentença. Porém, eu ultimamente tenho feito alguns despachos
também.
Estagiar
na vara cível proporciona uma imersão numa imensidão
de assuntos do
gigante direito e processo civil. Danos morais, execuções, danos
materiais, divórcios, reconhecimento/dissolução de união estável,
contratos, inventários, usucapião, obrigação de fazer/entregar
coisa/dar coisa certa, enfim, são muitas ações que possuem no seu
bojo uma verdadeira gama de assuntos. Você entra em contato o tempo
todo com direito material, tanto no que diz respeito aos aspectos
doutrinários quanto jurisprudenciais.
Vou
elencar alguns tópicos sobre minhas primeiras impressões nesses
poucos meses de estágio no gabinete da vara cível daqui.
1. Maiores dificuldades na assessoria do gabinete
Até
o momento minha maior dificuldade tem sido na parte da produtividade.
Eu sou bem devagar para fazer sentença, gosto de pesquisar, levar os
temas controvertidos pra casa, estudar eles direitinho e só depois
redijo a sentença para ser corrigida pelo Juiz.
Fazer
cursinho de sentença e redigir
uma sentença de verdade são
coisas totalmente distintas e posso afirmar com propriedade, já que
vivenciei e vivencio a prática das duas coisas. Numa sentença
hipotética seus argumentos estão na lei e nas súmulas, na prática
geralmente a solução da controvérsia das partes está numa
jurisprudência do STJ/STF ou do próprio tribunal.
Além
disso, a complexidade da vida real ultrapassa as hipóteses perfeitas
das sentenças hipotéticas não apenas pela abrangência de
ferramentas aptas para solucionar a lide, mas também pelo fato de
que você está lidando com pessoas de verdade e não com Caio, Tício
e Mévio. São pessoas que querem uma prestação jurisdicional
rápida e de qualidade.
Outra
grande dificuldade que encontro é o bloqueio de acesso pleno à
internet nos computadores do fórum. Como tenho o costume de ler os
periódicos de relevância na área jurídica, costumo ficar atento
ao que a doutrina moderna vem entendendo sobre os mais variados
assuntos e não consigo acessar quase nenhum desses sites dentro do
fórum porque são bloqueados. Mal consigo acessar o JusBrasil e
isso já é uma vitória mas acaba me atrasando pra caramba. Na JF
não havia esse bloqueio de sites e eu trabalhava com muita
agilidade. Para contornar o problema eu levo os temas pra casa e
pesquiso e só depois é que termino o serviço – isso me toma um
tempo considerável.
Mas
isso é coisa minha, ninguém na assessoria jamais me pressionou
quanto a isso. Aliás, comentei sobre isso com o Juiz que me
supervisiona e ele apoiou o fato de eu ir pesquisar e conferir as
coisas com calma, por isso sou fã dele. Eu vejo os assessores cheios
de processos pra fazer, assim como o juiz que ainda tem que fazer
inúmeras audiências e atender dezenas de advogados o tempo todo,
claro que eu quero ajudar o máximo possível. O ritmo é frenético,
eu vejo isso todos os dias.
2. Benefícios de estagiar na assessoria
Depois
de deixar destacada a minha maior dificuldade nessa minha recente
vida de estagiário-assessor, vou deixar aqui também os benefícios
que venho auferindo com estágio no gabinete. Afinal, tudo na vida
tem seus pontos negativos e positivos não é mesmo? Já destaquei
um, agora vou destacar os outros.
2.1 – Melhorar a prática de redação de sentença
Conforme
eu já havia mencionado aqui, trabalhar (estágio é relação de
trabalho) na assessoria possibilita um maior contato com o trâmite
processual não apenas passiva, mas ativamente também. Até porque é
lá que são feitos os despachos da inicial, despacho de emenda,
despacho de citação, decisões interlocutórias e sentenças.
As
primeiras sentenças demoram um pouco para sair, mas conforme você
vai redigindo uma, duas, três, quatro, as coisas vão melhorando. É
claro que você não vai ficar ninja do dia para noite. Eu tenho
menos de 4 meses e ainda me considero devagar, mas com certeza tenho
mais agilidade do que quando comecei.
2.2 – Imersão no direito material
Não
tem para onde fugir, você estará em contato o tempo todo com o
direito material discutido no caso concreto. E isso é ótimo! O
aprendizado é imenso. A leitura da inicial do autor, da contestação
do réu, do parecer do MP, das intervenções das fazendas públicas,
enfim, tudo isso proporciona um vasto conhecimento acerca da matéria.
O
mais interessante dessa parte é ver como as partes em litígio,
intencionalmente, moldam um mesmo direito com argumentos divergentes.
De uma forma ou de outra você é apresentado aos argumentos do
demandante e do demandado e terá que analisar qual direito é mais
plausível, se é que existe algum no caso em questão.
Por
fim, você terá que fundamentar a sentença de forma a abordar o
direito litigado, o que faz de você um verdadeiro aplicador do
direito não apenas no aspecto material mas também processual,
afinal o trâmite do processo é regido por leis e regimentos que aos
poucos você vai pegando o feeling da coisa e entendo cada vez mais
de uma forma mais internalizada – o que dificilmente aconteceria se
você ficasse apenas lendo livros. Use-os em sua fundamentação, mas
não fique preso única e exclusivamente a eles. Embora realmente o
uso de doutrina seja primordial para o exercício da função de
assessor, claro.
2.3 – Contato e pesquisa constante com a jurisprudência
A
arte de redigir sentenças exige uma compreensão razoável do
entendimento jurisprudencial dominante do tribunal vinculado, dos
tribunais superiores e, se possível, dos demais tribunais estaduais.
Por isso a pesquisa de jurisprudência é uma constante na rotina da
assessoria.
Estudar
a jurisprudência dos tribunais superiores é obrigação de todo
concurseiro que se preze, inclusive os candidatos à magistratura.
Através da prática de sentença você vai internalizando o costume
de estar em contanto o tempo todo com o entendimento dos tribunais e
muitas vezes você pode resolver alguns processos com o novo
entendimento do STF ou do STJ que acabou de ser publicado naquele
informativo que você leu semana passada no dizer
o direito. Aqui a teoria e prática são inseparáveis.
2.4 – Noção real de como é a rotina do trabalho de um juiz e de um assessor
É
muito interessante também observar como trabalha um juiz e um
assessor no dia a dia. Entender a praxe é se suma importância até
mesmo para ter ciência de como é a vida real desses cargos. Ter
essa noção é ainda mais importante quando o objetivo do cidadão é
futuramente vestir a toga assessorar um magistrado. Tão importante
quanto saber de prescrição intercorrente é saber o modus operandi
das coisas.
2.5
– Aprendizado com os colegas de trabalho
Uma
das vantagens aqui também é que estagiar na assessoria possibilita
trabalhar com professores da vida prática processual, como gosto de
chamar os assessores e os juízes. Qualquer dúvida que eu tenho eu
pergunto para algum assessor que esteja lá no momento e eles sempre
respondem com excelentes explicações e com muita objetividade, pois
a carga de trabalho não permite maiores divagações, principalmente
nas dúvidas atinentes ao trâmite processual. É muito bom!
2.6
– Contato com a praxe de uma vara do fórum
Tão
importante quanto o papel de um assessor é o papel dos servidores da
secretaria da vara. Eles são os responsáveis por colocar as coisas
em seus devidos lugares. Além disso, você percebe que todos os
funcionários do fórum desempenham um papel importante. Por mais que
o senso comum realmente tenha olhos apenas para o publique,
registre-se e cumpra-se, há mais coisas entre a petição inicial e
a sentença com ou sem resolução de mérito que nossa vã filosofia
consegue imaginar.
E
vivendo essa realidade começa a ter mais noção de como aquela
pilha de conteúdo da faculdade ganha vida no mundo real. A parte
mais legal disso é saber que você faz parte dessa galera que
materializa o direito e tenta ao menos desempenhar um trabalho com
honestidade e visando sempre defender a justiça e os direitos de
seus conterrâneos.
3.
Conclusão
Estagiar
na assessoria cível está sendo uma experiência incrível até o
momento. Sou suspeito para falar sobre a prática de sentença por
conta de minha predileção à magistratura, mas posso afirmar que se
você tem dúvida quanto ao aprendizado numa assessoria, dê-se o
privilégio de viver essa experiência, garanto que você aprenderá
bastante tanto na parte jurídica quanto na parte humana, pois você
verá que o trabalho do jurista não é com papéis, mas com vidas.
Até a próxima!
Estagiei com um magistrado também que, por sinal, encerrou-se ontem meu vínculo em razão do termino previsto do contrato. E foi uma satisfação enorme ver minhas conclusões da prática de estagiário nesses meus dois últimos anos em suas palavras. Sem tirar nem por, foi uma das maiores, senão a maior, experiências que já tive. Abraço.
ResponderExcluirOlá, Caney!
ExcluirFico feliz por comungarmos do mesmo sentimento, em que pese você já ter concluído a fase de estágio. Também tenho muita satisfação no desempenho das atividades. Teoria e prática formam uma bela dupla dentro de um gabinete. Muito obrigado pelo comentário! Desejo sucesso em sua jornada, um abraço!
amei !
ResponderExcluirGostaria de saber se o estagiario do juiz pode presidir audiencia de custódia, instrução decidindo os requerimentos que depois vão ser homologado pelo juiz, com é feito nos juizados especiais.
ResponderExcluirOBS: todos os atos acima serão feitos sob supervisão do juiz!
Olá, Hiury.
ExcluirNa teoria, não.
Na prática, a história é outra.
Estagiários - quando devidamente habilitados mediante curso de formação - podem fazer as vezes de mediadores e conciliadores dos tribunais, por exemplo.
Todos os atos ali firmados, claro, são submetidos à futura supervisão do magistrado.
Já quanto à audiência de custódia a questão é mais delicada. Não há curso de formação algum que dê ao estagiário a autonomia para presidir uma audiência dessa natureza.
Na prática forense, quando não feita presidida pelo juiz, um assessor é que faz tal obrigação, cujos atos são posteriormente analisados pelo magistrado. Por essa lógica, o mesmo poderia ser aplicado ao estagiário, o que não é recomendável mas acontece sim.
Abraço,
Henrique.
Me ajudou bastante na minha decisão, obrigado
ResponderExcluirFico feliz por isso, qualquer coisa estou às ordens.
ExcluirAbraço,
Henrique.
Gostaria muito de ter sido designado para um gabinete, mas, infelizmente acabei caindo na Atermação. Se possível, pedirei para ser designado a alguma vara
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